“Para preparar a definição do dogma da Imaculada
Conceição de Maria, Pio IX constituiu, em 1º de junho de 1848, uma comissão de
teólogos. Em 2 de fevereiro de 1849 mandou ao episcopado do mundo católico
mundial a Encíclica “Ubi primum” (Pio IX, Acta 1/I, 162 – 166) para pedir a
opinião dos bispos a respeito da definibilidade. As respostas dos bispos foram
publicadas na obra Pareri dell’ Episcopato cattolico, di capitoli, di
congregazioni di universitá... sulla definizione dogmatica dello immacolato
concepimento della B. V. Maria... (10 vols., Roma 1851 – 1854). Dos 603 bispos
interrogados, 546 eram a favor da definição. Depois da publicação desses
‘votos’, Pio IX fez elaborar alguns esquemas da bula (publicada por V. Sardi,
l.c. infra, 2, 22ss 60ss 76ss 103ss 125ss 151ss 177ss 259ss). O próprio Papa
participou de maneira decisiva na redação final da bula.”
Trechos da Bula “Ineffabilis Deus”, 8 de dezembro de
1854, do Papa Pio IX.
“O Deus inefável... desde o princípio e antes dos
séculos, escolheu e predestinou para seu Filho Unigênito uma mãe da qual
nascesse feito carne, na bem-aventurada plenitude dos tempos; e a acompanhou
com tão grande amor, de preferência a todas as criaturas, que unicamente nela
se comprouve com a mais propensa
vontade. [...] Assim ela, sempre absolutamente livre de toda mancha do
pecado, toda bela e perfeita, possui uma tal plenitude de inocência e de
santidade que de modo nenhum se pode conceber maior, depois de Deus, e que,
fora de Deus, ninguém pode apreender por mero pensamento.
E certamente era de todo conveniente que uma mãe tão
venerável refulgisse sempre adornada dos esplendores da santidade mais perfeita
e, inteiramente imune da mancha da culpa original, alcançasse o mais completo
triunfo sobre a antiga serpente. A ela, Deus Pai decidiu dar seu Filho Único,
ao qual, gerado do seu coração, igual a ele mesmo, ama como a si mesmo, e
decidiu dar de modo tal que ele fosse, por natureza, um só e o mesmo Filho
comum de Deus Pai e da Virgem; a ela, o mesmo Filho a escolheu para fazê-la sua
mãe de modo substancial, e o Espírito Santo quis e atuou para que por ela fosse
concebido e nascesse aquele do qual ele mesmo procede.
De fato, a Igreja de Cristo, diligente guardiã e
vindicadora das doutrinas a ela confiadas, nelas nada jamais altera, nada
omite, nada acrescenta, mas, com todo o zelo, tratando fiel e sabiamente os
velhos dados que desde tempos remotos tomaram forma e que a fé dos Padres
semeou, procura limá-los e poli-los de tal modo que aqueles antigos dogmas da
doutrina celeste recebam evidência, luz e precisão, mas conservem sua
plenitude, integridade e característica e se desenvolvam somente segundo seu
próprio gênero, ou seja, no mesmo dogma, no mesmo sentido, na mesma sentença.
[...] Para a honra da santa e indivisa Trindade, para
adorno e ornamento da Virgem Deípara (Mãe de Deus), para exaltação da fé
católica e incremento da religião cristã, com a autoridade do nosso Senhor
Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e nossa, declaramos,
proclamamos e definimos: a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria,
no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio do Deus
onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi
preservada imune de toda mancha da culpa original, é revelada por Deus e por
isso deve ser crida firme e constantemente por todos os fiéis.
Portanto, se houver quem presuma – o que Deus não
permita – pensar no coração diferente do que foi por Nós definido, tais tomem
conhecimento e saibam que, condenados por seu próprio juízo, naufragaram na fé
e estão separados da unidade da Igreja, e ainda incorreram automaticamente nas
penas estabelecidas pela lei, se se atreverem a manifestar por palavra, por
escrito ou de qualquer outro modo externo, o que pensam no coração” (DENZINGER,
2007, p. 614 – 616).
REFERÊNCIA:
DENZINGER, H. Compêndio dos símbolos, definições e
declarações de fé e moral. São Paulo: Paulinas, Loyola, 2007.
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